O encontro com a Netiko.
Um dia desses me deparo com uma menina de 5 anos de idade, com um cabelinho de tigela e um ar de pentelha, mas ao mesmo tempo super tímida. Usando roupas velhas e com os dedinhos sujos de terra. Pergunto a ela o seu nome:
- Meu nome é Netiko.
Respondeu.
Algo de familiar notei nela. Não sei se eram os olhos, o rosto, ou o nome...
Perguntei a ela o que ela gostava de fazer:
- Gosto de ir atrás do meu pai pro meio da roça, catar frutinhas e andar de bicicleta. Gosto de encontrar ninhos de passarinhos e ver eles crescendo. Gosto de subir nos pés de caquis e jogar pão no riozinho de casa onde tem muitas carpas que o meu avô cuida. Gosto de jogar video-game e brincar de casinha na terra. Gosto de brincar com o meu cachorro e de irritar a minha irmã. Gosto quando minha mãe encontra algum bichinho interessante e me mostra. Gosto de ir a cidade com meu pai.
E ela me perguntou o que eu gostava de fazer.
- Eu gosto de entrar na internet e gosto de conversar com meus amigos. Gosto também de ouvir músicas e de ler bons livros. Respondi.
- Ah...tá.
Respondeu Netiko com certo ar de desprezo.
Perguntei a ela o que ela gostaria de ser quando crescer:
- Quando eu crescer, eu quero ser aeromoça. Viajar por todos os países e falar muitas línguas. Eu vou conhecer várias pessoas e vários lugares diferentes e ser muito rica. Se eu não for uma aeromoça, eu vou ser uma veterinária. Eu vou me casar e ter dois filhos. Um menino e uma menina. E você, Janete, o que você faz?
- Eu sou uma pica-pau em auditoria, sabe. Uma profissão que você trabalha muito e ganha pouco. Eu posso trabalhar numa copiadora também. Eu sei tirar xerox e fazer caderninhos. Por enquanto só sei falar japonês e um pouco de inglês. Mas isso não me leva a lugar algum. Eu só viajo muito pra dentro do país. Mas não conheço muita gente e nem conheço tão bem os lugares. Eu sou solteira e acredito que eu vá morrer assim.
- ah...tá. Novamente respondeu Netiko com ar de desprezo.
Ela acenou para mim, virou as costas e foi embora. Tentei chamar de novo, mas ela não me respondeu e desapareceu, assim, do nada como apareceu. E nunca mais apareceu. Nunca mais ouvi falar nela...
Netiko passou rapidamente em minha vida. Deixou marcas profundas. Mas nunca mais a encontrei. Sempre que penso nela, não sei porquê, mas sinto uma nostalgia, uma saudade. Penso que a vida pode ser bem mais belas quando se tem sonhos...
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