My Tiny Invisible World

Porque tudo aquilo que você faz nem sempre é tudo aquilo que você vê.

segunda-feira, julho 12, 2004

O encontro com a Netiko.

Um dia desses me deparo com uma menina de 5 anos de idade, com um cabelinho de tigela e um ar de pentelha, mas ao mesmo tempo super tímida. Usando roupas velhas e com os dedinhos sujos de terra. Pergunto a ela o seu nome:

- Meu nome é Netiko.

Respondeu.

Algo de familiar notei nela. Não sei se eram os olhos, o rosto, ou o nome...

Perguntei a ela o que ela gostava de fazer:

- Gosto de ir atrás do meu pai pro meio da roça, catar frutinhas e andar de bicicleta. Gosto de encontrar ninhos de passarinhos e ver eles crescendo. Gosto de subir nos pés de caquis e jogar pão no riozinho de casa onde tem muitas carpas que o meu avô cuida. Gosto de jogar video-game e brincar de casinha na terra. Gosto de brincar com o meu cachorro e de irritar a minha irmã. Gosto quando minha mãe encontra algum bichinho interessante e me mostra. Gosto de ir a cidade com meu pai.

E ela me perguntou o que eu gostava de fazer.

- Eu gosto de entrar na internet e gosto de conversar com meus amigos. Gosto também de ouvir músicas e de ler bons livros. Respondi.

- Ah...tá.
Respondeu Netiko com certo ar de desprezo.

Perguntei a ela o que ela gostaria de ser quando crescer:

- Quando eu crescer, eu quero ser aeromoça. Viajar por todos os países e falar muitas línguas. Eu vou conhecer várias pessoas e vários lugares diferentes e ser muito rica. Se eu não for uma aeromoça, eu vou ser uma veterinária. Eu vou me casar e ter dois filhos. Um menino e uma menina. E você, Janete, o que você faz?

- Eu sou uma pica-pau em auditoria, sabe. Uma profissão que você trabalha muito e ganha pouco. Eu posso trabalhar numa copiadora também. Eu sei tirar xerox e fazer caderninhos. Por enquanto só sei falar japonês e um pouco de inglês. Mas isso não me leva a lugar algum. Eu só viajo muito pra dentro do país. Mas não conheço muita gente e nem conheço tão bem os lugares. Eu sou solteira e acredito que eu vá morrer assim.

- ah...tá. Novamente respondeu Netiko com ar de desprezo.

Ela acenou para mim, virou as costas e foi embora. Tentei chamar de novo, mas ela não me respondeu e desapareceu, assim, do nada como apareceu. E nunca mais apareceu. Nunca mais ouvi falar nela...


Netiko passou rapidamente em minha vida. Deixou marcas profundas. Mas nunca mais a encontrei. Sempre que penso nela, não sei porquê, mas sinto uma nostalgia, uma saudade. Penso que a vida pode ser bem mais belas quando se tem sonhos...